segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O DUELO DOS CAMPEÕES ESTADUAIS EM 1931




O aguardado encontro entre os campeões dos dois maiores centros esportivos do Brasil, o S. C. Corinthians Paulista e o Botafogo F. C., respectivamente campeões de São Paulo e do Rio de Janeiro no ano de 1930, aconteceu nos dias 2 de abril e 6 de maio de 1931.
Para o primeiro jogo, a delegação do Botafogo chegou a São Paulo no dia 1º de abril.
O jogo em São Paulo não foi dos melhores. Pouco antes de começar o jogo, o tempo se modificou, caindo uma chuva torrencial, deixando o campo sem as condições propícias para um jogo dessa importância, impedindo os jogadores de desenvolverem toda a sua técnica. É bom frisar que o campo da Floresta esteve interditado no domingo anterior ao jogo também por conta da chuva.
O Botafogo entrou primeiramente em campo, com a seguinte formação: Pedrosa, Benedicto e Hermínio; Burlamaqui, Martim e Pamplona; Ariza, Benevenuto, Octacílio, Nilo e Celso. O técnico era Nicolas Ladanyi.
Depois, Adalberto substituiria Ariza e Ariel entrou no lugar de Benevenuto.
Os corinthianos ingressaram no campo com estas modificações: na extrema esquerda, em lugar de De Maria, Antoninho fazia sua estréia; no centro, substituindo Gambinha, o veterano Viola, que já defendeu as cores do Syrio. A formação completa foi esta: Tuffy, Grané e Del Debbio; Leone, Guimarães e Munhoz; Filó, Figueiredo, Viola, Rato e Antoninho. Técnico: Virgílio Montarini.
Foi árbitro da partida Virgilio Fedrighi, muito conhecido nos meios esportivos cariocas.
O jogo teve início dez minutos antes das 16 horas, notando-se, desde logo, a firmeza dos cariocas, que procuravam conquistar uma vantagem inicial.
Muito homogêneo e muito rápido o quadro do Botafogo, contando com elementos que combinavam as jogadas com relativa precisão.
Mesmo com Tuffy não estando em um de seus melhores dias, rebatendo muito mal os tiros dos jogadores botafoguenses, o clube carioca não conseguiu marcar.
Coube ao extrema direita Filó a marcação do primeiro gol da tarde, vinte minutos depois de iniciado o jogo.
No segundo tempo, o Corinthians melhorou e, depois de várias tentativas, Figueiredo assinalou o segundo gol do campeão paulista.
Note-se que o Botafogo, mesmo em situação desvantajosa, não esmoreceu um só instante. A sua linha de avantes deu muito trabalho à defesa do Corinthians. Guimarães, Del Debbio e Tuffy não tiveram descanso. Ocasiões houve em que era patente o domínio dos visitantes.
Os destaques do Corinthians foram Filó e Rato, por seus esforços individuais, auxiliados fracamente por Antoninho e Figueiredo.
No Botafogo, destacaram-se Martim, muito seguro e incansável; o goleiro Pedrosa não cometeu nenhuma falta; e mais Nilo e Celso, que fizeram perigar por várias vezes a meta de Tuffy.
O segundo jogo somente aconteceu mais de um mês depois.
A delegação do Corinthians chegou ao Rio de Janeiro na tarde de 5 de maio e foi recebida pelos dirigentes do Botafogo na Central do Brasil e hospedou-se no Hotel Riachuelo. Veio presidida pelos senhores Guido Giacominelli e Alfredo di Martella.
Sob a luz dos refletores do campo da rua General Severiano, o segundo jogo entre Botafogo e Corinthians foi realizado no dia 6 de maio de 1931, com início às 21:30 horas.
Os preços dos ingressos eram os seguintes: cadeiras numeradas, 15$000; arquibancadas, 5$000 e gerais, 3$000.
Os times entraram em campo assim formados:
BOTAFOGO: Pedrosa, Benedicto e Octacílio; Pamplona, Martim e Canalli; Ariza, Paulinho, Carvalho Leite, Nilo e Celso. Técnico: Nicolas Ladanyi.
CORINTHIANS: Colombo, Grané e Del Debbio; Leone, Guimarães e Munhoz; Filó, Napoli, Bertone, Rato e De Maria. Técnico: Vicente Montarini.
O jogo no primeiro tempo teve duas fases distintas: na primeira, o Botafogo teve sensível iniciativa dos ataques, tendo Colombo ocasião de fazer algumas defesas sensacionais em chutes de Nilo, Carvalho Leite e Paulinho. Depois, o Corinthians reagiu e o jogo ficou bem equilibrado, com ataques alternados até o final do tempo.
Aos 18 minutos de jogo, Octacílio para escorar uma arrancada de Filó, concede um escanteio. Filó bate bem e Bertone emenda com ótima cabeçada, marcando o primeiro gol do jogo para o Corinthians.
Aos 32 minutos, Nilo recebeu a bola de Martim, avançou, driblou Del Debbio e empatou o jogo.
O primeiro tempo terminou empatado em 1 x 1.
No 2º tempo, o Botafogo exerceu certa supremacia desde o início e aos poucos foi tomando conta do terreno até exercer acentuado domínio sobre o adversário.
Aos 5 minutos, Pamplona lança uma bola sobre a área. Colombo tenta alcançá-la mas a bola bate na trave e chega aos pés de Celso, que cruza para trás e Nilo marca o segundo gol do Botafogo.
Aos 15 minutos, Carvalho Leite sofre uma falta de Del Debbio, perto da área. Benedicto bate a falta com forte chute ao gol. Colombo não consegue deter a bola, do que se aproveita Carvalho Leite para marcar o terceiro gol do Botafogo.
Dois minutos após, Ariza livra-se de Munhoz e efetua um belo centro para a área, Nilo escora magistralmente de cabeça e marca o quarto gol do Botafogo.
Logo depois, o Corinthians substitui Colombo por Tuffy.
Três minutos após a substituição, Grané intercepta um passe e tenta atrasar a bola para Tuffy, mas faz de maneira errada. Paulinho entra e desvia a bola com um chute colocado, obtendo assim o quinto gol do Botafogo.
Aos 36 minutos de jogo, Nilo e Carvalho Leite combinam bem. Nilo recebe o passe dentro da área e em admirável “rush” dribla Grané e Del Debbio e aproxima-se do gol. Tuffy, em último recurso, sai, mas Nilo desvia a bola com um chute colocado marcando o sexto gol do Botafogo.
Faltavam dois minutos para terminar o jogo quando Carvalho Leite conseguiu driblar Del Debbio e arremessar forte, no canto de Tuffy, para marcar o sétimo e último gol do Botafogo.
O placar de 7 x 1 diz bem da superioridade do campeão carioca, que obteve uma vitória incontestável, legítima e bastante significativa.
É justo salientar na equipe do Botafogo a atuação magnífica de Nilo, talvez o mais perfeito “forward” da América do Sul no presente momento. Celso e Paulinho na linha e Pamplona e Benedicto na defesa foram outros elementos de destaque. Do Corinthians, os melhores foram Guimarães, Munhoz, Rato e Napoli.
Atuou como árbitro Vitório Silvestre Teixeira, do S. C. Internacional, de São Paulo.

Fontes:
Estado de S. Paulo
Jornal do Brasil.


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