sábado, 22 de setembro de 2012

O BOTAFOGO DE TODOS OS TEMPOS


Na opinião de Pedro Varanda, o maior pesquisador da história do Botafogo de Futebol e Regatas que nós conhecemos, este seria o BOTAFOGO DE TODOS OS TEMPOS:

1. Manga – 442 jogos e 394 gols sofridos.
4. Marinho Chagas – 183 jogos e 40 gols.
2. Mauro Galvão – 115 jogos e 1 gol.
3. Leônidas – 246 jogos e 1 gol.
6. Nilton Santos – 721 jogos e 11 gols.
5. Gérson – 247 jogos e 96 gols.
8. Didi – 313 jogos e 116 gols.
7. Garrincha – 612 jogos e 243 gols.
9. Amarildo – 231 jogos e 134 gols.
10. Jairzinho – 412 jogos e 186 gols.
11. Quarentinha – 444 jogos e 308 gols.

Técnico: Mário Jorge Lobo Zagallo, 370 jogos.

A PRIMEIRA CRISE


Em função da imaturidade e da juventude dos meninos do Botafogo Football Club, não demoraram a aparecer as primeiras brigas. Em 1904, surgiu uma crise difícil de ser contornada entre Flávio Ramos e o capitão do time, Victor Faria. Por causa desse desentendimento, houve a primeira cisão. Saíram vários sócios, entre eles o Presidente Alfredo Guedes Mello e o vice Ithamar Tavares, que fundaram outro clube, o Internacional, que teve muito pouco tempo de vida.
Entre 1904 e 1905 ocorreram diversas mudanças.
No ano de 1905, o Botafogo passou a contar com uma nova diretoria, composta por Waldemar Pereira da Cunha – Presidente, Ismael Maia, Alfredo Chaves, Octávio Werneck, Álvaro Werneck e Júlio Werneck.
Neste mesmo período, aconteceu uma crise política no Clube de Regatas Botafogo. Essa crise levaria para o Botafogo F. C. diversos sócios e diretores. Entre eles estava Joaquim Antônio de Souza Ribeiro, considerado o primeiro grande presidente da história do Botafogo Football Club.



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SERÁ LANÇADA AMANHÃ A PEDRA FUNDAMENTAL DO NOVO CT DO BOTAFOGO

 

O Botafogo iniciará nesta quinta-feira, 20 de setembro de 2012, às 11 horas, em Marechal Hermes, a construção do Centro de Treinamento que no futuro acolherá as categorias de base. O projeto do clube, que assinou acordo de cessão do espaço com o governo do Estado do Rio de Janeiro por 20 anos, é atender aos jovens atletas alvinegros e a 300 crianças e adolescentes em projetos sociais.
A expectativa do Botafogo é de que o local fique pronto antes das Olimpíadas do Rio, em 2016, e possa receber delegações estrangeiras.
A área de 100 mil metros quadrados contará com dois campos oficiais, dois outros campos de treinamento, uma piscina, uma quadra poliesportiva, auditório, sala de musculação, refeitório, alojamento para 72 atletas (o atual abriga apenas 23 jogadores), entre outros novos setores. A inovação maior fica por conta da escola que será do Botafogo e colocada dentro do centro de treinamento. A intenção do clube é trabalhar as jovens promessas também fora de campo.
O projeto de modernização do local tem 100 mil metros quadrados e está pronto desde abril de 2011. Entretanto, passou por mudanças depois de visitas de dirigentes alvinegros a Centros de Treinamento de ponta no Brasil e na Europa. Toda a estrutura física atual deixará de existir para dar lugar a novas instalações.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NÃO ESQUECE: A ESTREIA DE QUARENTINHA NO BOTAFOGO


O Botafogo estava precisando de uma vitória como a conseguida no dia 26 de junho de 1954, em jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Na verdade os alvinegros desde muito vinham merecendo, apesar de opiniões em contrário, sorte melhor.
Seja como for, o que se viu no jogo de sábado foi uma equipe bem armada, valente, composta dos mesmos jogadores que sempre pertenceram ao plantel com uma única exceção, que foi, justamente, Quarentinha, estreante.
E ninguém poderia dizer que foi esse jogador o responsável pelo triunfo, muito embora ele tenha atuado muito bem.
E para os que costumam ver no técnico o responsável por tudo que acontece de mal ao clube, principalmente nos dias de derrota, essa vitória deve ter sido bastante amarga, porque veio mostrar, antes de mais nada, que Gentil Cardoso tem cabeça e sabe usá-la, que tem visão e conhece o jogador sabendo se ele é bom ou não.
O encontro bem merecia um público mais numeroso, principalmente porque o Botafogo apresentou bom futebol, fazendo, mesmo, reviver o esquadrão dos melhores dias do campeonato passado, apesar da falta sensível que Nilton Santos ainda faz ao time.
O São Paulo bem que ensaiou alguns ataques à meta do Botafogo, mas encontrou em Gilson uma barreira intransponível, um arqueiro perfeitamente recuperado e disposto a manter o zero no marcador.
Aos 12 minutos, surgiu o primeiro gol do Botafogo. A jogada nasceu nos pés de Garrincha, que esticou para Carlyle, na entrada da grande área. Sem perda de tempo, Carlyle serviu a Dino da Costa, com um passe curto para o centro. Dino da Costa teve tempo suficiente para preparar o chute, escolher o canto e deixar o goleiro Poy sem ação.
A partir deste lance, o Botafogo se animou e tentou aumentar o placar, mas os jogadores do São Paulo se defendiam com bravura e contra-atacavam seguidamente numa reação que só não foi coroada de êxito porque o trio final alvinegro demonstrou um espírito de luta notável e foi crescendo à medida que o tempo se esgotava.
Aos 31 minutos, o Botafogo faz cerrada carga sobre a meta de Poy. Cabe a Carlyle atirar para o gol, com o goleiro caído e dois defensores esperavam o tiro de misericórdia. Carlyle quis colocar e atirou muito fraco contra as redes. De Sordi salva, Carlyle torna a chutar e Poy rebate. A bola acaba sobrando sobrando para Neyvaldo, na extrema, que completamente desmarcado cruzou para a área, indo a bola ao encontro de Dino da Costa que, com um tiro seco e forte assinala o segundo tento para os seus.
O Botafogo não dá trégua ao São Paulo. Aos quarenta minutos cabe ao estreante Quarentinha demonstrar, mais uma vez no decorrer da partida, que a sua aquisição foi das mais acertadas. Estava o Botafogo inteiro no ataque e Dino da Costa atira violentamente contra a trave. A bola volta para a risca que marca a grande área e Quarentinha a recupera e tenta driblar um marcador, mas ainda assim insiste e consegue recuperar a bola. Então, numa virada sensacional atira contra o arco inesperadamente. A bola choca-se com violência contra o travessão e bate na mão de Poy antes de voltar à pequena área, onde Carlyle, bem colocado, emenda de primeira marcando o terceiro tento para o Botafogo.
Pouco depois terminou a primeira etapa com o Botafogo apresentando um futebol muito superior.
Os primeiros vinte minutos do segundo tempo mostraram um São Paulo disposto a recuperar o terreno perdido. Mas a defesa botafoguense, com Gerson dos Santos jogando muito bem e orientando, com sua experiência, os mais novos, era um obstáculo difícil de ser ultrapassado.
Por intermédio de Canhoteiro, o São Paulo conseguiu escapar. Frente à frente com o arqueiro botafoguense, Canhoteiro atirou com violência. Gilson recebeu o chute em pleno rosto e caiu inconsciente. Alguns segundos depois, quando o perigo ainda era grande dentro da área, foi com surpresa que se viu Gilson, evidentemente movido pelo seu subconsciente, erguer-se do solo e correr para o gol. E ali permaneceu por mais alguns segundos, até que a bola foi chutada para fora e o perigo completamente afastado. Então, Gilson tornou a cair, novamente inconsciente.
Gilson tentou recuperar-se e permanecer no arco, mas era impossível continuar. Pouco depois, Pianowsky o substituiu e o jogo transcorreu sem outra anormalidade até que Dino da Costa e De Sordi, trocando pontapés, foram expulsos pelo árbitro Juan Carlos Armenthal.
Aos 32 minutos, Paulinho recebe na pequena área, completamente abandonado pelos marcadores. Entra entre dois zagueiros e atira, com força, para o gol, a dois passos da linha. A bola bate na trave superior, quica no chão onde o goleiro Poy estava caído, voltando ao travessão e acaba morrendo nas redes. Era o quarto gol alvinegro.
O quinto veio aos trinta e oito minutos, de pênalti, praticado por Nilo em Garrincha e cobrado por Quarentinha que teve, assim, nova ocasião de evidenciar qualidades. Só que desta vez mostrando-se dono de um autêntico canhão.
Pouco tempo depois Carlyle é expulso de campo ao dirigir palavras pouco amáveis a um adversário. Dois minutos depois surgiu o tento de honra do São Paulo, marcado por Dino, com um tiro cruzado, que Pianowsky não pôde evitar.
As equipes atuaram com as seguintes constituições:
BOTAFOGO: Gilson (Pianowsky), Gerson dos Santos e Bulau; Bob, Ruarinho e Juvenal; Garrincha, Dino da Costa, Carlyle, Quarentinha e Neyvaldo (Paulinho).
SÃO PAULO: Poy, Clélio e De Sordi; Pé de Valsa, Vítor e Turcão; Haroldo (Nilo), Marucci (Lanzoninho), Rodrigo (Aldo), Gino e Canhoteiro. Técnico: Jim Lopes.
A renda foi de Cr$ 65.017,60.

Fonte: Última Hora.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

RETRATO EM PRETO E BRANCO: Aymoré Moreira


Aymoré Moreira nasceu em Miracema (RJ) no dia 24 de abril de 1912.
Em 1929, foi para o Rio de Janeiro, lutar boxe, mas acabou jogando futebol. Em seus primeiros jogos teve uma rápida passagem pela ponta-direita e depois se firmou como goleiro.
Corajoso, arrojado, compensava sua baixa estatura (1,72 m) jogando fora da pequena área. Impressionada com o seu estilo entre as traves, a imprensa brasileira que acompanhava seus jogos logo o caracterizou de “goleiro elástico e voador”.
Disputou os Campeonatos Cariocas de 1931 e 1932, promovidos pela Associação Metropolitana de Esportes Athléticos – A.M.E.A., pelo Sport Club Brasil.
Em 1933, transferiu-se para o América, por onde disputou o campeonato promovido pela Liga Carioca de Football.
Depois, em 1934, foi para o Palestra Itália (atual Palmeiras), onde sagrou-se campeão paulista no mesmo ano.
No final do ano de 1935, voltou para o Rio de Janeiro, para jogar no Botafogo, fazendo sua estréia no gol do Botafogo em 1º de março de 1936, durante a excursão que o clube alvinegro fez ao México e aos Estados Unidos.
Em sua primeira atuação pelo campeonato carioca (12 de julho de 1936, com vitória de 2 x 1 sobre o Madureira), obteve o seguinte comentário de “O Jornal” sobre sua atuação: “Observando os dois esquadrões, deveremos assinalar a performance de Aymoré, sem dúvida a maior figura em campo e um dos mais positivos fatores do triunfo conquistado pelos alvinegros”.
Duas semanas depois, 26 de julho de 1936, na derrota de 1 x 0 para o Vasco da Gama, o Correio da Manhã disse: “O clube local teve em Aymoré e Nariz duas grandes figuras. O mignon keeper está em ótima forma. Brilhou.”.
Nos anos de 1938 e 1939, Aymoré foi bicampeão brasileiro jogando pela Seleção Carioca.
Fez três partidas oficiais (e uma não oficial) pela Seleção Brasileira, contra a Argentina. Na primeira, em 18 de fevereiro de 1940, empate de 2 x 2; na segunda, 25 de fevereiro de 1940, derrota de 3 x 0 e, na última vez, 5 de março de 1940, sofreu cinco dos seis gols com que a Argentina goleou o Brasil por 6 x 1.
Seu último jogo pelo Botafogo foi em 10 de outubro de 1943, coincidentemente com o mesmo Madureira (2 x 2) contra quem estreara. Nessa época, já perdera a posição de titular no gol do Botafogo para Ary. Também chegara ao Botafogo o goleiro Oswaldo Baliza. Aymoré, então, passou a ser o terceiro goleiro do Botafogo.
Encerrou a carreira de jogador em 1946.
Depois de terminada a carreira de jogador e já formado pela Escola de Educação Física do Rio de Janeiro, Aymoré Moreira optou por continuar ligado ao futebol, iniciando sua carreira de técnico no Olaria, do Rio de Janeiro (RJ) em 1948.
Foi campeão brasileiro como treinador da Seleção Paulista em 1952.
Em 1953, técnico da Portuguesa de Desportos, ganhou a “Fita Azul”.
Assumiu a Seleção Brasileira pela primeira vez em 1953. Sua estréia como técnico da seleção foi em 1º de março de 1953. Perdeu o Sul-Americano daquele ano em Lima (Peru), mas em relatório entregue à Confederação Brasileira de Desportos – CBD criticou a entidade, que não lhe dera opções para fazer a convocação. Também ficou sem o cargo, mas hoje sabe-se que a atitude ajudou a mudar a postura dos dirigentes, permitindo aos futuros treinadores a liberdade de escolher os comandados.  Tanto que voltou à Seleção Brasileira em 1961 para ganhar o bicampeonato mundial em 1962 e seguir na seleção, com intervalos, até 1968.
Em 1954 passou a ser treinador do Palmeiras. Perdeu a decisão do título paulista em homenagem ao IV Centenário de Fundação da Cidade de São Paulo, para o Corinthians.
Tornou-se tricampeão brasileiro pela Seleção Paulista em 1955 e 1957.
Voltou a ser o treinador do Taubaté, de São Paulo, em 1958.
Conquistou um inédito tetracampeonato brasileiro pela Seleção Paulista, em 1959.
Dirigindo a Seleção Brasileira conquistou as Taças Bernardo O´Higgins (contra o Chile), em 1961, Osvaldo Cruz (contra o Paraguai), no mesmo ano e em 1962, Copa Roca (contra a Argentina), em 1962, e a Taça Rio Branco (contra o Uruguai), em 1967.
Em 1962, como treinador do São Paulo, perdeu o título de campeão paulista para o Santos.
Dirigiu a 1965 - Portuguesa de Desportos em 1965, o São Paulo em 1966, sagrou-se campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, a Taça de Prata (mais tarde reconhecida pela CBF como campeonato brasileiro), com o Palmeiras, em 1967. Neste mesmo ano, dirigiu o Flamengo por seis meses (de 22 de outubro de 1967 a 9 de março de 1968), sem suceso. Foram 20 jogos, quando conquistou sete vitórias, três empates e dez derrotas.
A primeira vez como treinador do Corinthians aconteceu em 1968. Sua estréia foi em 11 de agosto, no amistoso em que o Corinthians empatou em 0 x 0 com o Ferroviário, de Araçatuba. Dirigiu o clube pela última vez em 24 de novembro, na derrota de 2 x 1 para o Fluminense, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa daquele ano. Se desentendeu com Osvaldo Brandão, que dividia com ele as atribuições do cargo na qualidade de supervisor.
Poucos dias depois, em 17 de dezembro de 1968, dirigiu a Seleção Brasileira pela última vez, no empate em 3 x 3 com a Iugoslávia. Foram 63 jogos à frente da Seleção Brasileira, obtendo 38 vitórias, 9 empates e 16 derrotas. Era o recordista de partidas pela Seleção Brasileira, título que só perdeu muito tempo depois para Zagalo e, em 2003, perdeu o segundo lugar para Carlos Alberto Parreira.
Retornou ao Corinthians em 26 de setembro de 1970, num jogo contra o Fluminense pela Taça de Prata daquele ano. Exerceu a função de olheiro para o técnico da Seleção Brasileira, Zagalo, na Copa do Mundo de 1970, conquistada pelo Brasil.
Em 1971 foi campeão do Torneio do Povo pelo Corinthians. Deixou o clube depois de um empate contra o Guarani (0 x 0), em 15 de abril, pelo Campeonato Paulista, sendo substituído por Francisco Sarno. Ao todo, foram 55 jogos na direção do Corinthians.
Dirigiu a Portuguesa de Desportos na maior goleada da história do clube, ocorrida em 2 de fevereiro de 1972: 12 x 1 contra o Ferroviário, de Oruro, Bolívia.
Foi para a Europa, mais precisamente em Portugal, quando foi treinador do Boavista, na temporada 1972/1973 e do F. C. Do Porto nos anos de 1974 e 1975. Também dirigiu o Panathinaikos, da Grécia.
Voltou ao Brasil em 1978, quando foi vice-campeão baiano, dirigindo o Vitória, naquele ano e no ano seguinte. Também dirigiu o rubro-negro baiano no Campeonato Brasileiro.
Passou a ser treinador do Galícia, em 1980, quando perdeu a final do campeonato baiano para o Vitória.
Em 1981, sagrou-se campeão estadual com o Bahia.
Dirigiu o Vitória nos dois primeiros turnos do Campeonato Baiano de 1984. Depois, passou para a Catuense e o clube venceu um dos turnos (o terceiro), ficando com o terceiro lugar na classificação final.
Aos 86 anos, no dia 26 de julho de 1998, morreu em Salvador (BA), vítima de falência múltipla de órgãos, insuficiência cardíaca, respiratória e renal. Vivia com uma aposentadoria de 600 reais por mês e completamente abandonado pelos amigos.


sábado, 1 de setembro de 2012

TRANSFORMANDO A DERROTA IMINENTE EM UMA GRANDE E ESPETACULAR VITÓRIA


Essa foi a manchete do jornal A Noite no dia seguinte ao jogo realizado no dia 28 de novembro de 1948, entre Botafogo e Flamengo, no estádio de General Severiano.
Eis alguns detalhes desse jogo.
“Vinte e dois cavalheiros são pagos para jogar futebol. Vários milhares de criaturas saem de casa e ficam espremidas pelas arquibancadas de um campo qualquer para ver aqueles vinte e dois cavalheiros jogarem. Vem um árbitro da Inglaterra, ganhando bom dinheiro, e é incumbido de apitar o jogo dando o exemplo de uma boa arbitragem para os seus colegas brasileiros.
A assistência emocionada espera o apito inicial do Mister. Emoção. Expectativa geral. O árbitro trila o apito e o jogo começa. No mais aceso da luta, no entanto, uma coisa extraordinária acontece. Largam um cachorro dentro do campo e o cachorro começa a correr para lá e para cá, atrapalhando os jogadores e causando muitos risos à torcida.
O apitador para o jogo e o cachorro é posto para fora do gramado depois de muita luta. Todos respiram aliviados, acreditando de que aquilo acabou. Mas é engano. Durante os noventa minutos, o Mister é obrigado a parar cinco vezes o jogo e milhares de assistentes, vinte e dois jogadores e o próprio árbitro ficam à espera que o cachorro seja novamente mandado para fora do gramado.
Isso senhores, embora pareça um absurdo, hoje em dia é usual nos gramados cariocas. Tomem nota: em pleno século XX, numa cidade que tem foros de civilizada, num país de 40 e tantos milhões de habitantes, para-se uma partida de futebol do campeonato mais importante da metrópole por causa de um cachorro...
Aconteceu no jogo Botafogo e Flamengo, já aconteceu antes e certamente acontecerá amanhã ou depois.
Nós não somos contra o Biriba, que ele entre em campo antes do jogo, que entre no intervalo e que entre no fim está certo. Mas permitir que o cachorrinho atrapalhe o jogo é que não achamos direito. Imagine se amanhã cada clube resolve adotar uma mascote. Um, um elefante, outro ainda um hipopótamo, e assim por diante. Os espetáculos de futebol virarão exibição de animais, farão concorrência ao próprio Jardim Zoológico.
Biriba acabou irritando todo mundo, até aos jogadores botafoguenses. E nós aqui, escrevendo essa crônica, ficamos a imaginar o que não dirá, na Inglaterra, Mister Dewine... Há de afirmar que às vezes não sabia se apitava uma partida de futebol ou se tomava parte num show sem grandes compromissos...
Agora vamos ao jogo.
O Flamengo, vencendo o Fluminense, aparecia como um quadro capaz de dar combate ao esquadrão botafoguense. E deu. Isso porque os jogadores da Gávea, muito embora se analisássemos o poderio de cada equipe víssemos que o favoritismo penderia para o lago alvinegro, são sempre capazes de fazer das tripas coração quando em campo.
De modo que, quando o jogo começou, o Flamengo foi à frente apresentando um futebol vistoso e de bom rendimento, muita gente ficou imaginando que o Botafogo sairia de campo derrotado.
Realmente os pupilos de Kanela andavam no gramado à vontade e a marcação que a defesa botafoguense exercia sobre os avantes da Gávea não era, em verdade, eficiente. A prova disto é que Zizinho e Jair Rosa Pinto jogavam completamente desmarcados, principalmente o meia-esquerda, que andava pelos costados do campo organizando perigosas jogadas para a meta alvinegra.
Ávila, Rubinho, Nilton Santos e o próprio Gerson dos Santos não conseguiam se entender e não marcavam ninguém. Enquanto isso, a linha do Flamengo ia desenvolvendo seu jogo, de passes cruzados e rasteiros, trazendo por várias vezes o pânico à meta de Oswaldo Baliza.
Desta maneira, a assistência esperava a queda do arco botafoguense a qualquer instante.
Aos quinze minutos, a linha do Flamengo desce pela esquerda. Zizinho conduz a bola, deslocado, até o costado do campo e centra alto. A defesa do Botafogo parou e Durval se aproveitou da indecisão para marcar o tento número um do Flamengo. Delírio dos rubro-negros que viam naquilo um prenúncio de nova e espetacular vitória.
Consignado o primeiro gol, o Flamengo continuou a exercer forte pressão sobre o arco contrário. Aos vinte e dois minutos, nova carga da ofensiva rubro-negra e a bola vai a cabeça de Zizinho, que levanta sobre a meta de Oswaldo Baliza. Novamente, a defesa para e Gringo consegue atingir pela segunda vez as redes do guardião botafoguense. Nova demonstrações de alegria da torcida rubro-negra, que, naquela altura, já tinha quase certeza da vitória... Mas o segundo tento do Flamengo serviu para acertar a defesa botafoguense. Então cada um dos seus componentes passou a uma marcação “homem a homem”, dificultando, desta forma, os movimentos da vanguarda rubro-negra. Chegou a vez do Botafogo pressionar o reduto flamenguista perigosamente. Também o arco de Luiz Borracha passou por várias situações de perigo, situação essas salvas, na maioria das vezes, pelo arqueiro, por Norival e Biguá, que favorecia o guardião do grêmio tricampeão. O tempo se esgotou e o placar não sofreu alterações.
Muita gente pensou que no segundo tempo as coisas iam tornar a favorecer o Flamengo. É que geralmente o rubro-negro costuma jogar mais no segundo tempo e o Botafogo ao que tudo indicava, iria pregar na etapa final devido aos esforços despendidos na primeira fase. Aconteceu justamente o contrário. Quem pregou foi o Flamengo. E isso ficou positivamente demonstrado quando, dada a saída, viu-se o esquadrão rubro-negro recuar, jogar apenas na defesa, sem esboçar aqueles ataques perigosos dos quarenta e cinco minutos iniciais.
Do outro lado, o Botafogo jogava como que revigorado, como se seu time tivesse entrado em campo naquele instante. Consequentemente, com o prego de Jair Rosa Pinto, que era o elemento de ligação, a linha flamenguista parou. Retrocedeu para tentar o impossível: deter a avalanche alvinegra que cada vez se mostrava mais forte. O arco de Luiz Borracha passou inúmeras vezes por situação de pânico mas nestes momentos críticos sempre aparecia, providencialmente, um defensor flamenguista, para evitar a queda de sua cidadela.
No entanto, todos sentiam que a coisa estava mudando e que muito em breve o Botafogo conseguiria. E realmente tal aconteceu. Numa descida da linha botafoguense, a bola foi centrada rasteira por Braguinha. Ávila, que vinha lá de trás, correndo, emendou também rasteiro para burlar a vigilância de Luiz Borracha. Os botafoguenses viram, então, que a vitória não seria impossível, como chegaram a pensar, talvez quando o Flamengo mandava no jogo e ganhava por 2 x 0.
Nesta altura, o Flamengo já andava desorientado, dando chance ao Botafogo para incursionar pelo seu terreno por diversas vezes. Mas assim mesmo a tarefa do alvinegro era difícil, porque Biguá aparecia jogando muito bem, e Norival e Luiz Borracha também.
Aos vinte e dois minutos houve um lance sensacional, inédito quase. Houve um ataque do Flamengo – um dos raros do segundo tempo – e a bola saiu pela linha de fundo. Oswaldo Baliza cobrou o tiro de meta com um chute à meia altura. Gringo, na linha média botafoguense emendou a pelota, muito alta. Oswaldo Baliza, que voltava calmamente para o arco, na crença de que a bola estivesse no meio de campo, não viu a pelota que ia em direção ao seu arco. Quando viu, alertado pelos seus companheiros e pela torcida que antevia o desastre, saiu correndo para deter a bola que já o cobrira. Conseguiu ainda tocá-la com as pontas dos dedos, mas não evitou que a mesma se aninhasse em suas redes. Era o terceiro gol do Flamengo, que fez com que a torcida delirasse na expectativa, novamente, de uma vitória.
Mas a alegria rubro-negra durou pouco. Dada a saída, o Botafogo foi à frente e pegou a defesa do Flamengo descolocada. Octávio, então, fez o serviço que lhe competia. Recebeu a bola da direita e chutou para as redes de Luiz Borracha. Era o segundo tento do Botafogo, tento esse que liquidaria de vez o Flamengo.
Novamente foi posta a bola no centro e dada nova saída. O Botafogo foi à frente cheio de autoridade. E o Flamengo, tonto, andava sem se acertar, pelo campo. Cada vez mais se acentuava o predomínio alvinegro, e a cada momento os jogadores do Flamengo mais se entregavam.
Aos 30 minutos e meio, o Botafogo desceu pela esquerda e bola foi a Braguinha. O extrema livrou-se bem de Biguá e chutou para marcar o tento que seria o do empate e que abalaria profundamente o moral já abatido do quadro de Kanela.
O tempo passou com o Botafogo já agora procurando o tento que lhe possibilitaria pular na frente do marcador, em busca de uma vitória que seria sensacional. E três minutos e meio depois, conseguia o seu intento quando Pirilo, aproveitando-se de uma confusão na área do Flamengo, aninhou a pelota nas redes do arqueiro Luiz Borracha. Delírio na social alvinegra que via uma derrota transformar-se numa virada extraordinária pela sua expressão.
Em campo o Flamengo já estava batido. Mas estava escrito que a vitória do Botafogo seria por um placar mais dilatado. Aos quarenta e quatro minutos, o extrema Paraguaio, numa rápida investida, passou por Jayme e Norival para chutar frente a frente com Luiz Borracha e marcar o quinto e último tento do Botafogo, que selaria um resultado justo, uma vez que o esquadrão alvinegro soube reagir no tempo devido e se aproveitar habilmente das falhas do adversário.
Ao Flamengo coube a glória de ter oferecido a um dos líderes uma resistência inesperada que deu maior colorido e significação ao resultado alcançado pelo seu adversário. Passou desta forma o Botafogo por mais um perigoso concorrente nesta corrida sensacional pelo título de campeão da cidade do ano em curso.
Os quadros formaram assim:
BOTAFOGO: Oswaldo Baliza, Gerson dos Santos e Nilton Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirilo, Octávio e Braguinha. Técnico: Zezé Moreira.
FLAMENGO: Luiz Borracha, Nilton e Norival; Biguá, Bria e Jayme; Luizinho, Zizinho, Gringo, Jair Rosa Pinto e Durval. Técnico: Kanela.
Mr. Dewine foi um árbitro correto, muito embora amarrasse o jogo marcando todas as faltas, mesmo quando o atingido levava vantagem.
A renda foi de Cr$ 207.964,00”.